terça-feira, 26 de junho de 2007

Mesa de Bar

As conversas com os amigos são sempre agradáveis, ainda mais quando ocorrem em uma mesa de bar, entre uma cerveja e outra, falamos sobre tudo, da vida profissional, da vida alheia (não que eu concorde com esse assunto), de futebol, e principalmente de paixões e amores.
Essa conversa torna-se quase que uma confissão, mas ao invés de confessionário temos a mesa, ao invés do padre temos um ou vários amigos, e ao invés de penitências temos os conselhos.

Às vezes certas conversas podem nos assustar, pois nem sempre o assunto é bem vindo, os quais envolvem muito mais gente dos que as que estão sentadas ao redor da mesa, e de vez em quando descobrimos coisas que gostaríamos de nunca ter descoberto e nem ter tomado conhecimento sobre o fato, também achamos que conhecemos muito bem as pessoas e em meio a certos assuntos acabamos quebrando a cara e batendo de frente com a verdade, percebemos então que não temos a exata noção do que elas são ou podem ser.

Mas deixemos os assuntos ruins de lado, até por que não temos o poder de julgar as pessoas pelos seus atos, mesmo que fiquemos indignados com os assuntos ruins mencionados, e mesmo quando as pessoas tomam atitudes que nos fazem refletir se realmente as conhecemos, não podemos nos interferir.

Os melhores assuntos vêm mesmo quando depois de varias cerveja ou taças de vinho e já meio sem noção do que possa se tornar ridículo ou estranho, é quando se abre o coração e os sentimentos mais dissimulados emergem sobre a mesa do bar, o homem torna-se mais sentimental e então começa a derramar suas mágoas.

É ai que começamos a falar sobre paixões, desilusões e sonhos, literalmente abrimos nosso pensamento e compartilhamos todas nossas emoções com os amigos verdadeiros e eternos companheiros de bar.

Aparecem também em meio ao embaralho de palavras – promovido pelo álcool – aqueles sentimentos guardados a sete chaves, que pensávamos nunca revelar a ninguém, a não ser que fosse à pessoa pela qual sentimos, tais sentimentos tornam-se públicos, e então nos encorajamos, ficamos capazes de enfrentar a tudo e a todos e sofrer todas as conseqüências para ir atrás do seu grande amor, falamos em declarações, que correr atrás deste sonho, deste objetivo, e que não importe o quão difícil seja os obstáculos encontrados pelo caminho superaremos todos, tudo por um certo sentimento – o Amor.

Mas...

No dia seguinte acordamos, em meio ao nosso quarto, com uma imensa dor de cabeça que mesmo com todos os remédios que existem não conseguiríamos saná-la, então começamos a pensar, e tentar puxar da vaga memória pedaços e resquícios da noite passada, e como se fosse um quebra-cabeça lembramos de tudo (ou quase tudo) do que aconteceu, algumas lacunas ficam e só são preenchidas mais tarde quando reencontramos os amigos.

Depois de passada a maldita dor de cabeça – mais uma vez causada pelo excesso de álcool – percebemos que não somos mais os mesmos que levantou horas atrás de uma mesa de bar, já não somos mais tão corajosos para fazer loucuras de amor como dissera e que todos nossos sonhos, que pensávamos estar ao nosso total alcance, estão, na verdade, cada vez mais distantes.

Concluímos que a pessoa amada está seguindo seu caminho e que você não irá fazer nada do que tinha falado para impedir que ela siga sem sua presença e de nada adiantou tantos sonhos, sonhados junto dos seus amigos, e mesmo sabendo que a pessoa amada poderá estar pegando o rumo do incerto não terá a coragem para fazer tudo que dissera na mesa do bar.

Tu verás teus amigos novamente, horas mais tarde depois de ter refletido, e só então conseguirá preencher as lacunas que ficaram em tua memória – novamente promovido pelo excesso de álcool – mas mesmo assim os assuntos que foram colocados em pauta na noite não serão mais discutidos.

Porém tu descobrirás que por mais que tenha chegado em casa com tranqüilidade, mesmo depois de trançar vários caminhos, tu que estava bêbado e muita coisa não sabia que tinha feito, seus amigos te contarão o que fizeste, perceberás que promevera fatos que não deveria fazer, pois já prometerá que nunca mais iria procurar, mas mesmo assim depois do álcool tomar conta, fica difícil de cumprir tal promessa – sei que o excesso de álcool não é desculpa – mas é que depois da melancolia da conversa proferida no bar, das decepções virem a tona e das boas recordações, não controlamos nosso corpo nem nossa mente, muito menos nossa vontade.

Mesmo depois de uma noite cheia de sentimentos e revelações, retornaremos ao curso normal da vida, sem fazer nada para que a mesma mude, para que no próximo final de semana, em mais um encontro com os amigos no bar, tu não estejas mais sozinho, e sim com a pessoa com a qual você realmente deseja.

Mas se voltar a acontecer somente com os amigos, que seja realmente bom e proveitoso, e que essas amizades e esses encontros nunca terminem mesmo depois de todos terem cumprido seu rumo e terem realizado seus sonhos, como sempre vai ser, pois não importa o que aconteça, sejamos felizes todos, sempre, mas nunca esqueçamos dessa época mágica.


É assim que vejo minha vida: Junto à mesa de um bar. Pois quem não bebe não tem história.

Um comentário:

Silêncio disse...

Filipe,

Permite que, desta vez, o comentário seja um pouco maior ...

Guimarães Rosa já dizia: "o animal satisfeito dorme", fazendo alusão ao risco de, por se considerar pleno e realizado, o indivíduo tender a cair numa espécie de tédio existencial, afetivo e/ou intelectual.
Ou seja, pode ser perigoso sentir muito conforto diante da vida porque a propensão natural será a acomodação.
Os desassossegos e indignações pelos fatos e situações novas ou inesperadas; pelas paixões e/ou amores (aparentemente) não-correspondidos; ou mesmo pelas atitudes das pessoas à nossa volta ... tudo isso faz com que se aprenda mais e mais "coisas novas" - imagina que chato seria se tudo fosse fácil, apenas confirmação do que se "pensa que sabe".

Portanto, apesar do eventual desconforto, é a "insatisfação" que nos mantém interessados na vida e que nos leva a evoluir.

Concluindo com outra do Guimarães Rosa: "só aos poucos é que o escuro é claro".

Abração !
Continua assim, piá !