quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Um Pouco de Camões

Recitar um poema de Camões, é sempre mergulhar em um profundo sentimento de amor.

Hoje posto em meu blog, uma poesia de Camões que serviu de inspiração para uma das músicas mais famosas, do Legião Urbana, que chama Monte Castelo.

Amor é fogo que arde sem se ver

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Luís de Camões

sábado, 13 de junho de 2009

Um pouco de Carlos Drummond de Andrade, para acalentar a noite fria da província!!


Audio de José, na voz de Drummond.
Clique aqui e ouça José na Voz de Drummond



JOSÉ


E agora, José?

A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

Ps: Essa poesia é em homenagem a uma pessoa especial...
E agora?!

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Para Viver Um Grande Amor

Vinicius de Moraes


Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... — não tem nenhum valor.

Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro — seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor.

Para viver um amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fidelidade — para viver um grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.

Para viver um grande amor, il faut além de fiel, ser bem conhecedor de arte culinária e de judô — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito — peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor.

É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista — muito mais, muito mais que na modista! — para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...

Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs — comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica e gostosa farofinha, para o seu grande amor?

Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto — pra não morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer "baixo" seu, a amada sente — e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia — para viver um grande amor.

É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que — que não quer nada com o amor.

Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva oscura e desvairada não se souber achar a bem-amada — para viver um grande amor.


Texto extraído do livro "Para Viver Um Grande Amor", José Olympio Editora - Rio de Janeiro, 1984, pág. 130.

Reativando

Quase um ano e meio se passaram desde a ultima postagem, volto a escrever, pela necessidade de falar algumas coisas que não tenho coragem de falar cara-a-cara, que posso simplesmente colocar narede, e à quem servir, saberá.


Volto muito mais romancista do que o normal, afinal depois de várias desilusões, de pessoas que nem sempre são o que parecem, retorno muito mais realista sobre as pessoas e sobre o que elas pensam.

O Filipe está de volta, trazendo mais um pouco de poesia, a minha geração tão pobre de inspiração.

"A persistência é o caminho do êxito"
Charlie Chaplin

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Um Pouco de Mário Quintana


Das Utopias

Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não quere-las...
Que tristes os caminhos,
se não fora a magica presença das estrelas!

Canção do Amor Imprevisto

Eu sou um homem fechado.

O mundo me tornou egoísta e mau.
E minha poesia é um vicio triste,
Desesperado e solitário
Que eu faço tudo por abafar.
Mas tu apareceste com tua boca fresca de madrugada,
Com teu passo leve,
Com esses teus cabelos...
E o homem taciturno ficou imóvel, sem compreender
nada, numa alegria atônita...
A súbita alegria de um espantalho inútil
Aonde viessem pousar os passarinhos!

Soneto do Amor Como um Rio

Este infinito amor de um ano faz
Que é maior do que o tempo e do que tudo
Este amor que é real, e que, contudo
Eu já não cria que existisse mais.

Este amor que surgiu insuspeitado
E que dentro do drama fez-se em paz
Este amor que é o túmulo onde jaz
Meu corpo para sempre sepultado.

Este amor meu é como um rio; um rio
Noturno, interminável e tardio
A deslizar macio pelo ermo...
E que em seu curso sideral me leva
Iluminado de paixão na treva
Para o espaço sem fim de um mar sem termo.

Poeminha do Contra

Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!

Mário Quintana (1906-1994)

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Poesia - Fernando Pessoa

A Outra - Fernando Pessoa

AMAMOS sempre no que temos
O que não temos quando amamos.
O barco pára, largo os remos
E, um a outro, as mãos nos damos.
A quem dou as mãos?
À Outra.


Teus beijos são de mel de boca,
São os que sempre pensei dar,
E agora e minha boca toca
A boca que eu sonhei beijar.
De quem é a boca?
Da Outra.
Os remos já caíram na água,
O barco faz o que a água quer.
Meus braços vingam minha mágoa
No abraço que enfim podem ter.
Quem abraço?
A Outra.


Bem sei, és bela, és quem desejei...
Não deixe a vida que eu deseje
Mais que o que pode ser teu beijo
E poder ser eu que te beije.
Beijo, e em quem penso?
Na Outra.


Os remos vão perdidos já,
O barco vai não sei para onde.
Que fresco o teu sorriso está,
Ah, meu amor, e o que ele esconde!
Que é do sorriso
Da Outra?
Ah, talvez, mortos ambos nós,
Num outro rio sem lugar
Em outro barco outra vez sós
Possamos nos recomeçar
Que talvez sejas
A Outra.


Mas não, nem onde essa paisagem
É sob eterna luz eterna
Te acharei mais que alguém na viagem
Que amei com ansiedade terna
Por ser parecida
Com a Outra.


Ah, por ora, idos remo e rumo,
Dá-me as mãos, a boca, o ter ser.
Façamos desta hora um resumo
Do que não poderemos ter.
Nesta hora, a única,
Sê a Outra.

Atenção Colorados

Em novembro do ano passado, o pesquisador Ricardo Bestetti e o repórter Thiago Dias da Rede Globo, estiveram no Japão com o Internacional para a companhar o Campeonato Mundial de Clubes, e fizeram um compromisso de que se o Inter fosse campeão Mundial escreveriam um livro juntos.

Estava feito o compromisso. A trabalho pelo GLOBOESPORTE.COM, Thiago, foi ao Japão e acompanhou de perto a campanha do Inter na conquista do Mundial de Clubes da Fifa de 2006. Ficou no mesmo hotel e nos mesmos vôos dos jogadores. Realizou o sonho de qualquer torcedor colorado. E após ter se passado um ano, ele está cumprindo a promessa feita ao amigo pesquisador: já está à venda na Feira do Livro de Porto Alegre e no site Livrosdefutebol.com o livro "O Colorado Internacional", que conta detalhes de todas competições internacionais já disputadas pelo clube.


Abaixo, alguns trechos das entrevistas exclusivas para o livro:

O DESABAFO DE ABEL BRAGA

Em 2004, Abel Braga foi vice-campeão da Copa do Brasil com o Flamengo. Um ano depois, ficou em segundo lugar novamente no torneio, desta vez com o Fluminense. Aceitou o desafio de comandar pela quarta vez o ao Internacional em 2006 - após passagens em 1988/1989, 1991 e 1995 - e já começou a temporada perdendo a final do Campeonato Gaúcho para o Grêmio, coisa que nenhum colorado gosta.
No momento que o árbitro Carlos Batres apitou para o centro de campo naquele dia 17 de dezembro de 2006 e decretou a vitória do Inter por 1 a 0 sobre o poderoso Barcelona, Abel não poderia ter pensado em outra coisa com o título mundial em suas mãos: “E falavam que eu era só vice...”
(...)
Na hora que viu seu time bater o Barcelona no Japão, tudo isso passou na cabeça do treinador. “Convivo muito bem com críticas, mas no Brasil é tudo oito ou oitenta. Conquistei títulos, cheguei duas vezes seguidas à final da Copa do Brasil, trabalhei na Europa... Estaria milionário se conseguisse tanta coisa assim com um time estrangeiro. Acho que sou melhorzinho do que falam”, disse Abelão.

OS MAIORES PARA FERNANDO CARVALHO

Para Fernando, o time de 2006 não conseguiu superar o de 1976 em qualidade. Mas alguns jogadores campeões mundiais tornaram-se mais importantes na história do clube. Casos do capitão Fernandão e do goleiro Clemer. “O Fernandão superou o Falcão em importância. Ele foi um capitão de verdade, soube defender o clube, levantou a taça”. E na briga pela camisa 1? “O Manga foi melhor, mas o Clemer entrou para a história com um grande Mundial. Ele foi mais importante”. O mesmo elogio vale para o técnico Abel Braga. “O Inter tinha dois treinadores marcantes: Teté (Francisco Duarte Júnior) e Rubens Minelli. O Abel virou o terceiro e, para mim, o maior da história”.

A REVELAÇÃO DE GABIRU

Antes de o técnico Abel Braga revelar a lista dos jogadores que viajariam para o Japão, parte da imprensa e a maioria dos torcedores pressionavam para Gabiru ficar fora. Segundo o jogador, até mesmo dentro do clube havia quem o queria longe de Tóquio e Yokohama: “Eu não ia para o Mundial, eu sei disso. Algumas pessoas da diretoria não queriam me levar. O Abel que me bancou, bateu de frente com eles”, revelou. A versão é negada por Fernando Carvalho, presidente do Inter em 2006. “Isso nunca aconteceu. Eu mesmo era um dos grandes defensores dele”, disse o dirigente.

A COPA DE FERNANDÃO

Com poucas passagens pela seleção brasileira, a disputa do torneio organizado pela Fifa virou prioridade na carreira do camisa 9. O craque deu tanta importância ao Mundial que foi o único jogador a levar um assessor de imprensa ao Japão. Bruno Junqueira seguia os passos do atacante e ficou responsável por atualizar o site oficial do capitão colorado, que escrevia também um diário virtual sobre a passagem pelo Oriente. “Antes de viajar, eu disse que aquela competição seria uma Copa do Mundo para todos nós que não tínhamos oportunidades na seleção”, lembrou.

O RECONHECIMENTO DE DECO

O meia Deco chegou ao Japão como cidadão português. Mas o camisa 20 do Barcelona, nascido em São Bernardo do Campo (SP) em 1977 e naturalizado lusitano em 2003, tinha o mesmo objetivo de dez entre dez jogadores de futebol brasileiros: ser campeão do mundo de clubes. Em 2006, ele estava do lado mais forte, foi eleito o melhor do Mundial e tinha craques como Ronaldinho Gaúcho ao seu lado. No entanto, perdeu a taça para o Internacional e viu seu sonho ser adiado.
Sonho é exatamente a palavra que Deco usou em depoimento a este livro, quase um ano depois da final de Yokohama, para descrever a diferença entre o Barça e o Colorado naquela decisão: “Para o Barcelona, o Mundial era mais um objetivo na temporada. Para o Inter, um sonho a ser realizado. Eles mereceram”.